Conversamos com a Azzurra, Bateria da Med - Barretos, que nos recebeu com muito samba e cerveja!
De um time de ritmistas sem instrumentos a campeã de desafio em menos de 2 anos, a Azzurra tem uma relação muito forte com todos os alunos de sua Faculdade, e chega no Batuca Franca para mostrar que pode competir de igual para igual com Baterias mais experientes.
As histórias que nos contaram o diretor Will, Mestre Sfor, os bixos e ritmistas Piu Piu e Batata, e a ex-ritmista Maciel a gente transcreve abaixo. Confira:
Sfor - Em 2013, estávamos estruturando a Atlética, fundada em 2012, e já sabíamos desses rolês de jogos e baterias, só que ainda não tínhamos uma prioridade, uma escolha entre ter primeiro a batucada ou alguma outra opção. Para nós, seria muito difícil até mesmo conseguir entrar em algum campeonato. Daí surgiu a ideia do Tormed, concretizou, e ficamos sabendo que tinha gente das outras faculdades comprando bateria.
Will - Era o primeiro ano do Tormed, 2013. Chegou o boato de algumas outras medicinas se movimentando, buscando patrocínios, empresas de formaturas...
Sfor - O problema é que não tínhamos nenhuma condição, a Faculdade não respaldava, não ajudava em nada, todo mundo estava duro por causa dos jogos. Por isso fomos atrás da Estrela [escola de samba da cidade de Barretos], queríamos ter um pouco de noção dos ritmos, de como tocar. Já tinha na Faculdade um aluno com a base, músico, baterista, e tudo. Aí a escola de samba liberou instrumentos e a quadra para nossos ensaios e começou o movimento Só que nossa opção, quando chegaram os jogos, foi de não levar nada, não poderíamos arcar com alguma quebra, reposição, não teria dinheiro.
BF - Mas mesmo sem os instrumentos, naquele momento já tinha um time de ritmistas pronto para tocar?
Will - Era estranho porque tinha a galera, mas variava muito de ensaio para ensaio. Ia um para o surdo um dia, aprendia e não aparecia mais. Mas tinha a repercussão boa da novidade, muita gente aparecendo com vontade de tocar. Quando fizemos o vídeo do primeiro ensaio da Bateria da Med - Barretos, que ainda nem tinha nem nome, era bem simples, uma batida só, a geral achando o máximo só por tirar um som, mas ainda não tinha a seriedade de desenvolver, o compromisso fechado de ser parte do time, de se formar ritmista.
Sfor - Atrapalhava porque nada era nosso, nem instrumento nem lugar. E a quadra era muito quente e longe, precisava marcar horário pra sair comboio levando o pessoal. O pessoal da escola de samba também não tinha compromisso com a questão do ensino, não tinha experiência para transmitir conhecimento e a batida acabava ficando quadrada mesmo.
BF - E quando a bateria começou a se desenvolver?
Sfor - Essa situação mais precária durou do meio de 2013 até abril de 2014. Começou a andar mesmo quando chegaram nossos instrumentos. Mas o choque mesmo aconteceu quando chegamos no Tormed de 2013, eram os primeiros jogos de todas as participantes, achamos que teria mais gente na nossa situação, mas não. Todas as Atléticas tinham bateria. Decidimos ali que não iríamos para jogos nenhum depois desse sem ter a Bateria.
Will - Só não foi pior porque a gente tinha bandeirão. Daí em diante não tinha mais o que fazer, tinha que crescer. O primeiro passo foi buscar nosso material, ensaiar na região da nossa faculdade, e tomarmos frente nos ensaios. Nessa época o Adelmo assumiu como mestre e quem tinha mais facilidade começou a estudar por tutoriais na internet, desenvolver as técnicas e transmitir pros outros ritmistas.
BF - Como foi a aquisição dos instrumentos?
Sfor - Tivemos que ficar no pé da Faculdade até entrar uma ajuda boa. Foi o grosso, que somamos ao nosso capital de giro, feito do lucro de festas e venda de produtos, e compramos a Bateria. Mas foi um ano pedindo ajuda para que isso acontecesse.
Maciel - Foi no cansaço mesmo, deram o dinheiro porque não aguentavam mais os alunos falando em bateria e bandeirão.
Will - Nossos instrumentos chegaram na véspera do Engemed 2014. Todos os ritmistas na porta da Faculdade esperando e a van que trouxe a encomenda se perdeu. Quando chegou, descarregamos aquele monte de caixa, abrimos, e ninguém sabia montar. Demos um jeito, montamos, mas não sabíamos afinar.

BF - Então ter os instrumentos foi o diferencial do crescimento da Bateria. O que mudou dali em diante?
Sfor - No dia que a Bateria chegou, quando a gente percebeu a Faculdade inteira tinha entrado na nossa sala, todo mundo doido batucando, causando mesmo! Daí começamos os ensaios com o Adelmo. Era na porta da Faculdade, mais perto dos alunos. Fomos fazer o básico, organizar o samba. Não teve apresentação nem desafio, mas no dia seguinte, no Engemed, nossa bateria já estava na arquibancada.
BF - Já com o nome de Azzurra?
Will - Eu que escolhi! Na verdade, foi colocado em votação. Tudo o que é nosso é azul ou preto, é nossa identidade. E pra chegar no Tormed precisava batizar a Bateria primeiro. Deram outras opções, Caveria, Barreteria. Azzurra é mais forte, a galera abraçou e foi adiante.
BF - No começo a Faculdade não quis ajudar; depois liberou a verba e vocês compraram a Bateria. Como foi a reação da instituição quando vocês decidiram ensaiar na porta?
Will - O pessoal comprou a ideia da Bateria. Principalmente quando melhorou nosso som. O dono da Faculdade a gente vê que gosta quando nos assiste, os funcionários acompanham os ensaios, chamam para tocar nos eventos. Também nos deram espaço para guardar material esportivo, instrumentos...
Sfor - Até o pessoal que cuida dos eventos da Faculdade nos chamou para tocar no Outubro Rosa, em 2014. Saímos pela cidade tocando em cima de um trio elétirico junto com a divulgação do evento do Hospital do Câncer.
Will - Quando vimos, era um trio de som, sem estrutura para banda, sem parapeito, barra de segurança nem nada, então tinha que equilibrar o instrumento, equilibrar o corpo e prestar atenção para abaixar quando passavam cabos elétricos, fios, galhos...
BF - Vamos seguir a história de vocês: então a Bateria chega na véspera do Engemed e vai para a arquibancada; acabam os jogos e passam os ensaios para a frente da Faculdade, já com uma ideia de crescimento. O foco era só o Tormed ou já tinham outros eventos como esse Outubro Rosa, festas?
Sfor - Essa visão de levar a Bateria para mais eventos, principalmente nas festas, começou depois do Tormed 2014. O próprio trio elétrico do Outubro Rosa foi depois. Antes acho que seria mais fazer um batuque pra bagunçar, e não apresentações mesmo, não tinha condições.
Will - Depois do Engemed, começamos a ensaiar pro Tormed 2014, estruturamos os ritmos que queríamos tocar, preparamos a questão de apresentação, uniformes, adereços. Queríamos fazer alguma coisa diferente, nossa Bateria ainda não estava no nível do desafio dos jogos, mas fomos para marcar presença, e foi nisso que nasceu a ideia de pintar a cara. A relação com a torcida no desafio também ajudou muito!
Sfor - No fim das contas impressionou muita gente. Fomos em mais de 30 ritmistas e ficamos na frente de Baterias mais velhas, surpreendemos quem achou que não sairia nenhum ritmo... já foi uma vitória ficar na quarta colocação do desafio.
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| Azzurra no Tormed 2014 |
BF - Mas quem ouve falar da Bateria neste ano escuta coisas maiores. Como foi 2015 pra Azzurra?
Sfor - No começo de 2015 surgiu a oportunidade de incorporar aos ensaios professores com experiência com música, samba e baterias universitárias. Também fizemos o compromisso dos ritmistas, principalmente os bixos, de não ser mais aquela coisa de aparecer de vez em quando, tinha que ter o time da Bateria formado e comprometido. A incerteza era até onde chegaríamos. Apostamos para ver se dava certo, nossa meta era crescer, sair do ponto que chegamos e paramos em 2014, mas até onde ia chegar era um tiro no escuro.
Will - O objetivo interno era fazer a Bateria crescer, melhorar, chegar no nível das outras para competir. Ninguém da gente é músico de formação, quanto menos sambista, Não dava pra aprender do nada a criar breques, mudar batidas, subidas e ainda ensinar. Foi isso que mudou, aprendemos os fundamentos, depois as evoluções, e agora a galera cria, ajuda na composição, acompanha outras baterias, escolas de samba...
Maciel - Saí da Bateria no final de 2014, mas acompanhei os ensaios, principalmente no primeiro semestre deste ano. É nítido que a Bateria toda comprou o compromisso de crescer. A gente vê, por exemplo, o tamborim: uma menina que não pega uma batida corre atrás das outras, leva instrumento para casa, chega mais cedo, insiste até aprender. Antes não... o pessoal chegava na hora do ensaio, pegava o instrumento de qualquer jeito, ia por obrigação. Hoje a galera quer competir, aprender coisas novas...
Sfor - O principal que mudou foi o pensamento. Queríamos crescer, mas não sabíamos nem como nem para onde. De repente os professores chegaram e falaram: o que vocês querem? Potencial vocês tem, mas se a cabeça for só de crescer para competir, vai lá, tira um barato, fica em terceiro e volta pra casa. Mas se quiserem ganhar, vamos estudar, vamos ensaiar, e pode até não ganhar, mas vai brigar pra ganhar, vai chegar lá e colocar todo mundo de cara com a Azzurra. E a galera acreditou nisso, comprou essa ideia!
Piu - O que eu vejo é que desde que entrei [em 2015], eu não aprendo só a tocar, que horas eu tenho que bater. A gente tem formação de ritmista, fundamentos mesmo, exercício pra fixar, tutoriais. E, de repente, o pessoal que achava que não ia conseguir fazer o que os professores mandavam começou a aprender, começou a pegar, começou a tocar e pegar gosto naquilo, amor pela Azzurra.
BF - Internamente então a mudança foi grande, estrutura, pensamento, ensaios. E os resultados?
Will - Cheguei no Engemed numa ansiedade que não dormia na véspera do desafio. Medo de errar meus breques, medo de não estarmos preparados, das outras chegarem mais pesado...
Sfor - Passa um filme na cabeça... em 2013 tivemos que pedir bateria emprestada para tocar, negociar horário.
Maciel - No Engemed não precisava nem de resultado. O resultado do desafio de baterias só saía no último dia, mas a gente via todo mundo, a Faculdade inteira satisfeita, foi uma das horas que a torcida mais gritou, mais empolgou. Não precisava do resultado, o que a gente queria tinha sido conquistado.
Piu - A gente via o resultado antes do desafio. O pessoal não dava bola pros ensaios. Com o tempo, o pessoal que passava na rua começou a parar para ver, os funcionários da Faculdade saíam para acompanhar, quem estava no ponto de ônibus batucava junto, dançava. Isso deu confiança. E no desafio, quando entramos em quadra, a primeira coisa que vi foi nosso bandeirão. Não tinha como dar errado, era nossa hora!
Sfor - Outro resultado positivo nosso foi a relação que criamos com a torcida. Ninguém vai no ensaio, mas quando a gente se apresenta os caras contagiam. Impressiona, parece que faz parte, grita junto. Ajudou demais na hora do desafio, sem eles não ganharíamos o Engemed.
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| Azzurra no Engemed 2015 |
BF - Fora dos desafios, essa mudança toda de 2015 não trouxe nada de novo para a Azzurra?
Sfor - Todas as festas e eventos da Faculdade a gente toca. Ainda não nos expandimos para eventos de fora, mas temos um festival num teatro de Barretos, e a diretora de lá já manifestou interesse em nos chamar para algumas ações dela. Também tem mais gente de fora que nos vê e nos procura.
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| Azzurra no Medshow, realizado em teatro da cidade de Barretos |
BF - E o que motiva a fazer parte disso tudo?
Will - Eu via as baterias das faculdades desde a época do cursinho. Queria fazer parte, nem quis participar de Atlética, queria somente a Bateria.
Sfor - Eu entrei porque queria ajudar, fazia parte da Atlética quando a Faculdade tinha 60 alunos! Daí quando começamos os primeiros ensaios achei zica a parada toda e não saí mais!
BF - Mas vocês são diretores, Sfor hoje é Mestre. Como foi essa caminhada desde a fundação?
Will - Comecei no surdo de terceira, fazia o corte, mas gostava de assistir vídeos de ripa, a galera fazendo aquelas puxadas doidas. Daí na formação deste ano, quando o Adelmo saiu, corri para o repinique. E não vou largar mais! Deixo estudos, namorada, minha casa, iniciação, tudo de lado pelas duas horas de ensaio. É a única coisa que não consigo deixar!
Sfor - Fiz marcação desde 2013. Jogaram no meu colo o agogô em 2015, bem quando falei que ia sair da Bateria para dedicar mais nos estudos. Interessei e fui até o Engemed. Foi aí que veio a oportunidade de apitar. Agora a tensão é diferente, não tem mais a preocupação com o tempo e o desenho do meu instrumento, agora eu tenho a responsabilidade de fazer a coisa certa, no tempo certo, com a bateria toda olhando e dependendo da minha chamada. Mas tem a parte boa: a honra de estar à frente daquilo tudo, ver onde a Bateria que eu ajudei a criar faz o esforço valer a pena.
BF - E para os novos ritmistas, por que entrar na Faculdade e tocar bateria?
Piu - Vi a Bateria em Barretos, em 2014, quando ainda no cursinho. Uma vez quando estive visitando, e outra no vestibular. Quando passei, já procurei o pessoal, avisei que queria tocar, mandaram aparecer no ensaio, corri pela marcação toda, primeira, segunda, terceira. Independente de ganhar desafios, é bonita a relação que a gente constrói, todo mundo depende um do outro lá dentro, tem que se ajudar para cada um superar seus limites. Hoje a gente vê que todos da Azzurra tem ouvido, tem técnica, a galera se dá bem, curte tocar, curte ensaiar. E nosso entrosamento já é intuitivo, ficamos íntimos dos instrumentos, dos outros ritmistas. Não tem como não amar! Depois que entrei na Med - Barretos, até passei em uma Federal, mas fiquei, aqui é meu lugar, essa é minha Bateria!
Maciel - A relação é tão forte que até eu que deixei a Bateria não consigo deixar os ensaios! Qualquer oportunidade que tenho acompanho o pessoal, tanto que os próprios ritmistas brincam que sou a primeira suplente!
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| Apresentação da Azzurra na entrada do vestibular, em 2014 |
Will - O mínimo que podem esperar é uma galera que vai bater no peito e competir. Queremos ganhar, sabemos da qualidade das outras baterias, e estamos nos preparando para chegar em alto nível sempre.
Sfor - A gente é muito pé no chão, ciente que tudo aqui aconteceu muito rápido, mas conquistamos nosso espeço e sabemos onde dá para chegar, sem que nada suba na cabeça. Ensaiamos, buscamos dar sempre um passo a mais na dificuldade de execução, na complexidade das batidas, e isso só fazemos porque a Azzurra toda tem comprometimento com os ensaios e com nossa qualidade. Isso nos permite querer brigar por títulos, nos dá segurança para sonhar alto.
BF - E a expectativa para o Batuca Franca?
Sfor - Conviver e competir com outras faculdades, baterias rodadas em torneios tradicionais, é a troca de experiência que nos falta. Competir com esse pessoal vai fazer a Azzurra crescer ainda mais.
Piu - São mais 11 Baterias além da nossa. 12 pegadas e ritmos diferentes para a gente aprender. Fica ansioso, não tem jeito. Reflete nos ensaios, a conversa dos ritmistas sobre a competição é cada vez mais frequente, todos querendo limpar os breques, aperfeiçoar.
Sfor - A verdade é que um ano atrás se pintasse o convite do BF a gente não tinha a menor condição, e hoje a gente chega forte. É um sonho realizado!

Recado final pra galera do Batuca Franca?
Caveira no coração e sangue azul na veia.
Batucada, virote e transação!
Então só vem!!!








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